Cirurgiões chineses implantam fÃgado de porco em humano pela primeira vez
- Saimon Ferreira
- 27 de mar.
- 3 min de leitura
Transplante abre caminho para novas possibilidades no tratamento de doenças hepáticas e na redução das longas filas de espera pelo procedimento

Uma equipe médica chinesa anunciou, nesta quarta-feira, 26, o transplante, pela primeira vez, do fÃgado de um porco geneticamente modificado para um humano com morte cerebral, gerando esperanças de uma nova opção de doação de órgãos que possa salvar vidas no futuro.
Os porcos são considerados os animais mais compatÃveis para a doação de órgãos, e vários pacientes vivos nos Estados Unidos receberam rins ou corações de porco nos últimos anos.Â
Os fÃgados, no entanto, demonstraram ser os órgãos mais difÃceis de transplantar, e até agora não haviam sido testados dentro de um corpo humano.
Diante da enorme e crescente demanda global por transplantes de fÃgado, os pesquisadores esperam que porcos geneticamente modificados possam oferecer ao menos um alÃvio temporário para pacientes gravemente doentes, que sobrevivem em longas listas de espera. Os médicos da Quarta Universidade Médica Militar em Xi’an anunciaram esse avanço decisivo em um estudo publicado na revista Nature.
O fÃgado de um miniporco ("micro pig") com seis genes editados para torná-lo um doador mais adequado foi transplantado para um adulto com morte cerebral no hospital em 10 de março de 2024, segundo o estudo. O experimento foi encerrado após 10 dias a pedido da famÃlia, disseram os médicos, enfatizando que seguiram diretrizes éticas rigorosas.
"Órgão ponte"
O paciente - cujo nome e outros detalhes não foram divulgados - ainda tinha seu fÃgado original, portanto recebeu o que é conhecido como um transplante auxiliar. A esperança é que esse tipo de transplante possa funcionar como um "órgão ponte", auxiliando o fÃgado existente de pessoas doentes enquanto esperam um doador humano.
Durante 10 dias, os médicos monitoraram o fluxo sanguÃneo no fÃgado, a produção de bile, a resposta imunológica e outras funções essenciais. O fÃgado de porco "funcionou muito bem" e "secretou bile de forma contÃnua", além de produzir a proteÃna essencial albumina, afirmou Lin Wang, coautor do estudo e médico do hospital de Xi’an, em uma coletiva de imprensa.
"É uma grande conquista" que pode ajudar pacientes com doenças hepáticas no futuro, acrescentou. Outros pesquisadores também elogiaram o avanço, mas destacaram que esse primeiro o ainda não confirma se o órgão suÃno poderia substituir totalmente fÃgados humanos. Os transplantes de fÃgado são particularmente complexos porque o órgão desempenha diversas funções - ao contrário do coração, por exemplo, que apenas bombeia sangue, explicou Lin.
O fÃgado filtra o sangue do corpo, metaboliza medicamentos e álcool, além de produzir bile, que auxilia na eliminação de resÃduos e na digestão de gorduras. No entanto, o fÃgado de porco produziu quantidades significativamente menores de bile e albumina em comparação com um fÃgado humano, alertou Lin.
Mais pesquisas são necessárias, incluindo estudos que analisem o funcionamento do fÃgado suÃno por perÃodos superiores a 10 dias, acrescentou. O próximo o será testar um fÃgado de porco geneticamente modificado em um paciente vivo.
"Impressionante"
O professor de transplantes da Universidade de Oxford, Peter Friend, que não esteve envolvido no estudo, afirmou que os resultados são "valiosos e impressionantes". No entanto, "isso não é um substituto para o transplante de fÃgado de doadores humanos (pelo menos no curto prazo)", disse ele à AFP.
"Esse estudo representa um teste útil da compatibilidade de fÃgados geneticamente modificados com humanos e aponta para um futuro em que tais órgãos possam fornecer e para pacientes com insuficiência hepática."
Lin enfatizou que a colaboração com pesquisadores dos Estados Unidos foi crucial. "Para ser franco, aprendemos muito com todas as pesquisas realizadas pelos médicos americanos", disse. No ano ado, cientistas da Universidade da Pensilvânia conectaram um fÃgado de porco a um paciente com morte cerebral - mas, em vez de ser transplantado, o órgão permaneceu fora do corpo.
Ambos os pacientes americanos que receberam transplantes de coração de porco acabaram falecendo. Por outro lado, Towana Looney, de 53 anos, retornou para casa no Alabama após receber um transplante de rim de porco em 25 de novembro de 2024.